"Educação no Concelho de Odemira" foi o tema da sessão extraordinária da Assembleia Municipal, que decorreu no passado dia 20 de Janeiro na Escola do 2º e 3º Ciclo de Sabóia.

O debate pretendeu envolver os vários intervenientes no processo educativo - tutela administrativa, conselhos executivos, alunos, professores, pessoal auxiliar e encarregados de educação.

A intervenção do Partido Socialista ficou a cargo de Telma Guerreiro e foi assim:

"Exmos. senhores e senhoras...

Começava por, em nome dos eleitos pelo PS, agradecer ao Município de Odemira por aceitar mais este desafio da Assembleia Municipal, agradecer à Encarregada de Educação que lançou o desafio à Assembleia Municipal, agradecer ao Agrupamento da Sabóia que nos recebe na sua sede e por ultimo agradecer a todos os que se fazem presentes hoje nesta sala.

Quem me conhece saberá que não vou fazer uma intervenção sobre a actualidade da educação, com criticas e lamentos, aquilo que vos proponho é uma viagem no tempo... porque todos temos a memória curta e um instinto de insatisfação permanente, temos tendência para esquecer o processo de evolução que fizemos, tendência a não valoriza-lo e a criticar, criticar porque queremos sempre mais e melhor. Completamente de acordo com esta luta incessante por termos melhor, mas façamos um ponto de ordem para reconhecer o quão melhor está o nosso espaço de educação, e valorizar as personagens que fazem dele um caminho impar...

Inicio de viagem:
- 1982: pré-primária de S.Teotónio - a sala era na antiga Sociedade Recreativa, não tínhamos espaço de recreio, não tínhamos refeições, não havia prolongamento de horário, não me lembro de ser visitada por 1 único Pai Natal durante a época Natalícia, mas tinha uma educadora que hoje é educadora dos filhos das minhas amigas e continua a ser uma boa educadora e tinha uma "continua" que recordarei para sempre; 
- 1983-1987: escola primária de S.Teotónio, tive sempre a mesma professora, não havia refeições na escola, salvo o tão popular pacote de leite com chocolate. Alguns colegas andavam a pé 1h para chegar à escola. Havia apenas uma "continua" na escola, a D.ª Maria, que tinha tempo para fazer rodas connosco em todos os intervalos e limpar toda a escola. Não havia escola a tempo inteiro, nem actividades extra curriculares mas tive a sorte de ter uma professora que tinha criatividade suficiente para nos dar isso tudo, e isso tudo de que falo foi o mais importante da minha educação escolar e cívica;
- 1987-1989: escola preparatória de S.Teotónio (agora casa Paroquial), do conceito de escola que temos hoje tinha muito pouco. Nunca fomos mostrar os nossos trabalhos a lado nenhum, salvo no Carnaval que nos juntávamos todos vestidos a rigor, em Odemira Três das minhas professoras, eram colegas do meu irmão no 12º ano em Odemira, foram professoras esforçadas e aprendi muito com elas;
- 1989-1994: Escola Secundaria de Odemira. Passei durante estes anos com varias "notas administrativas" - para os jovens estudantes que não sabem o que isto é - é a nota positiva mais baixa (um 3 ou um 10 conforme o caso), atribuída quando não há professor para leccionar a disciplina - tive educação física na sala de Construção Civil. Não havia "clubes" de nada, nem mais nada na escola para além das aulas e dos intervalos.
Não havia associações de pais, e se hoje acham que vão poucos pais à escola, no meu tempo só iam mesmo quando eram chamados ao Conselho Directivo. Não me lembro da minha escola ser convidada para uma Assembleia Municipal. Desta fase guardo os nomes e as aulas de tantos professores.
Fim da viagem.

Hoje, temos que reconhecer que as condições melhoraram, a abertura da escola para a comunidade trouxe mais criatividade ao ensino, as refeições para todos trazem mais capacidade para aprender, o transporte devolve às crianças tempo e capacidade de concentração, o enriquecimento curricular e os clubes trazem hipóteses para aprender mais e de forma mais divertida, os intercâmbios entre escolas diminuem o isolamento, os espaços de ensino têm mais qualidade e mais condições físicas, a participação de outras entidades, associações de pais e estudantes aumenta a participação, responsabilidade cívica, capacidade critica e autocrítica de todos.

O conceito de escola modificou-se e na minha opinião, para melhor. Temos que ser capazes de ver esta evolução e perceber que os alunos hoje têm uma escola mais criativa, mais participada, mais aberta, mais dinâmica e exemplo disso mesmo é estarmos aqui hoje pela sugestão de uma mãe a reflectir, a criticar a querer melhor. Como sei que é disso que cada um de vós nos vais falar hoje, resolvi falar-vos de um passado recente para sentirmos a evolução das condições e do modelo da educação e também para fixarmos o denominador comum deste passado e do nosso presente: as pessoas - alunos, professores, pais, auxiliares - são eles que fazem a educação.

Com todo o respeito pelos grandes temas, com toda a compreensão que tenho por eles e por quem os vive, queria só que a minha intervenção vos trouxesse à memória as condições que evoluíram e o mais importante do processo da educação: as pessoas que dela fazem parte.

A paixão por ensinar ajuda a descobrir a paixão por aprender e esta regra é tão simples para vivermos uma boa aprendizagem!

Terminava apenas com esta frase de uma amiga que é professora: "sabes o que gosto mais na minha profissão, é poder descobrir amores novos, todos os anos".

Telma Guerreiro"