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2008-04-25
Discurso do 25 de Abril



Exmo. Sr. Presidente da Assembleia...minhas senhoras e meus senhores,
Permitam-me começar com um desabafo. Quando me desafiaram para estar hoje aqui, a fazer este discurso, neste salão nobre, com presenças tão ilustres, devo confessar...fiquei cheia de medo!
E ainda estou, tal é a responsabilidade! Na dificuldade que o tema me coloca, na dificuldade de discursar, resolvi falar-vos um bocado da minha história:
Nasci dia 14 de Junho de 1977, as minhas recordações remontam a 1982, com muitas ajudas: fotografias, relatos da minha mãe, pai, irmão, amigos e muita imaginação. A primeira memória que tenho do 25 de Abril, não estou certa, mas deve ser de 1987/88, altura em que vieram actuar em Odemira os Trovante. Adorava Trovante!
Lembro-me de estar deitada na cama do meu quarto, a chorar. Os meus pais não me deixaram vir a Odemira. Fiquei em casa a ouvir o concerto, numa edição em directo da nossa tão querida Rádio Praia, para mim naquela noite, a minha melhor amiga.
Depois desta primeira recordação do 25 de Abril, vêm muitas outras.
Festivais pirotécnicos, concertos de bons músicos nacionais, hastear da bandeira, Hino Nacional, gritos de: Viva o 25 de Abril! Viva a Liberdade! - Por todas as ruas, em todos os momentos. Festa! Um local de encontro, sem dúvida, para rever amigos...
Quando me perguntam, onde estava eu no 25 de Abril? Pergunto logo, qual? Em que ano? Que concertos?... Nenhum destes...O de 74?! Não estava! Não tinha nascido ainda!
Sobre o 25 de Abril de 1974: tive que decorar alguns nomes, datas e acontecimentos para um teste, os meus pais às vezes falam sobre o assunto, os meus avós falavam muito sobre o "antigamente", com os olhos cerrados de tristeza pelo antes, e cheios de entusiasmo por aquilo a que chamavam, Vitória. Contavam-me histórias de vida, mas sempre crentes de que eu não acreditava neles, uma vez que tudo o que me contavam era tão diferente daquilo que eu conhecia e conheço. Mesmo que tenham acrescentado muitos pontos nas histórias, sempre acreditei neles e através destas histórias procurei entender o pulsar da Liberdade.
Aos 27 anos, fui professora por uns meses. O tema que trabalhei com alunos foi o 25 de Abril. Irónico! Tive que voltar a estudar e a ouvir histórias! Vimos um filme, fizemos pesquisas, ouvimos músicas, conversamos muito. Descobri que para eles o 25 de Abril era o mesmo que para mim: Uma história. Sempre gostei de contar histórias, e foi isso que fiz, tentei contar-lhes da melhor forma que sabia. Contei-lhes o 25 de Abril que não vivemos, com toda a emoção que meto nas histórias que conto às crianças, para acreditarem em duendes, fadas e princesas. Inventei tristeza, inventei medo, raiva, alegria, orgulho, felicidade, até inventei liberdade...
Há coisas que precisamos de viver para sentir, por isso meus caros, vocês que vivem a diferença, que sentiram, não levem a mal quando um jovem diz que o 25 de Abril é uma festa que acontece todos os anos em que comemoramos a Liberdade, com concertos e foguetes e ao mesmo tempo não sabe diferenciar os bons e os maus desta história. Com o tempo é apenas matéria para os testes, mas...estejam certos que vão sempre gritar vivas à Liberdade! E por favor, não se ofendam por isso, não fiquem tristes por isso. Nós que não sabemos o que foi o 25 de Abril, sabemos viver e aproveitar cada pedacinho da liberdade que vocês nos deram. Não olhem para nós como uma geração que não vale, porque não valoriza a diferença, não olhem para nós com o saudosismo da vossa juventude, das vossas lutas e acreditem que nós também vamos saber construir as nossas.
Quando me desafiaram para entrar numa lista para a Assembleia Municipal, pensei: Que bom poder participar, pensar o concelho de Odemira, contribuir, escutar, poder pensar e dizer, dizer sem pensar às vezes também. Que bom fazer parte de um grupo que tem um objectivo comum! Quero fazer parte, sem dúvida! ...mas depois, lá veio o duende que vive dentro de mim a lembrar-me: "Não te esqueças que não é só isso, lá há muita política, a dos partidos!". Essa, devo confessar, às vezes não gosto dela. Mas para não deixar cair por terra a minha vontade, rapidamente olhei para a menina que sonhou que um dia iria mudar o mundo, olhei para a jovem radical que defendia até se cansar as suas ideias, olhei para a mulher que estudou conceitos como a governança, a participação comunitária, o sentimento de comunidade, que defende que devemos olhar para a nossa rua, o nosso bairro, o nosso concelho sempre com o espírito de construir melhor. Não podia ficar de fora. Aceitei!
Pouco me importa, com todo o respeito, por que partido foram eleitos os meus amigos, pouco me importa por que partido fui eleita eu...Os partidos são pessoas com histórias, pessoas que pensam de forma diferente que discutem ideias diferentes, e esta diferença alimenta e faz crescer os bons projectos, tenham eles origem em qualquer um dos partidos.
Talvez vos pareça ingénua, e talvez seja mesmo, mas acredito que acima dos ideais políticos, têm que estar os interesses dos munícipes, das terras, dos lugares, para um melhor e mais justo desenvolvimento.
O que importa é que todos queremos o mesmo, um concelho com pessoas mais felizes, com melhor qualidade de vida, com serviços que sirvam a população, um concelho que saiba ser com dignidade.
Queremos um concelho com o caminho virado para o futuro.
E por crer que assim é, sinto orgulho em fazer parte de uma assembleia que discute de portas abertas que quer que lá entre toda a gente, que inventa uma Folha para tentar que mais gente participe, que faz assembleias jovens, que discute a igualdade de oportunidade... Por isso convido todos os munícipes a passarem esta palavra e a participarem connosco neste caminho, cumprindo o direito cívico de expressar, de reclamar, de opinar, de criticar, de sugerir.
Não foi isto que trouxe o 25 de Abril?
Então vamos colocar as questões nos lugares certos, vamos em conjunto lutar por aquilo que nos falta. Falta o IC4, faltam médicos de família, faltam transportes que sirvam de facto as populações, falta, falta...mas acreditemos todos que não nos falta gente. Gente que participa, gente jovem, gente menos jovem, gente que está aqui nesta sala e que tanto já fez para hoje a lista de faltas ser bem menor... Por isso o orgulho que sinto é no elevado respeito com que todos os deputados pensam o concelho de Odemira. O orgulho que sinto é por fazer parte deste grupo que todos os dias me ensina, o que foi o 25 de Abril.
Vocês que o viveram gritem com todas as vossas forças e emoções: Viva o 25 de Abril! Eu que não o vivi em 74, mas que o aproveito todos os dias vou cantar com o Jorge Palma: "tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo, o que não vivi, hei-de inventar contigo, sei que não sei, às vezes entender o teu olhar, mas quero-te bem...". Juntemos o Vosso ao Nosso 25 de Abril!


Viva às nossas histórias! Viva a Liberdade!

 

Telma Guerreiro

 

(Discurso proferido por Telma Guerreiro, membro independente eleito pelas listas do Partido Socialista e indicado como representante do PS para a intervenção, na sessão solene da Assembleia Municipal realizada no dia 25 de Abril de 2008.)

 
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